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Matheus Lorente

Desafios da idade: como começar a correr após os 50 anos

Existem diversas dúvidas na cabeça das pessoas que se interessam em começar a correr, a maior delas está na questão da idade. É comum pensar que a partir dos 50 anos iniciar um novo esporte pode ser mais difícil do que realmente é, por conta de lesões, não saber como planejar uma rotina de treinos e fatores psicológicos muitos desistem antes mesmo de encarar um novo desafio.


Um dos maiores questionamentos surge quando falamos sobre lesões, afinal, com a idade avançando menor a capacidade física. Apesar de inevitável, é possível contornar este obstáculo, para entender como, conversamos com a Dra. Ana Paula Simões, Presidente da Sociedade Paulista de Medicina do Esporte (SPAMDE) e médica das Olímpiadas Rio 2016.


Quando perguntada sobre como evitar lesões, a doutora afirmou: “Cuidando da composição corporal. A chave é ter uma boa quantidade de massa magra para poder sustentar as atividades físicas e uma baixa porcentagem de gordura [...] não é sobre o peso, é sobre o volume muscular para garantir uma boa mobilidade”.


Ainda respondendo sobre como manter a qualidade de vida enquanto praticante de esportes, Ana Paula citou a importância de realizar um bom acompanhamento das alterações metabólicas e hormonais. Com o envelhecimento natural do corpo e a diminuição da produção hormonal, que pode influenciar na saúde óssea e muscular gerando degenerações como osteopenia, osteoporose e sarcopenia.


“Para você ter uma longevidade com 40/50 anos é preciso fazer um controle laboratorial da composição corporal. Ter a parte nutricional para poder fazer as reposições e suplementações necessárias para a idade. Além de fazer muito fortalecimento como manutenção da massa muscular”, disse a médica.





Apesar da idade não ser um fator limitante para a prática da corrida é necessário compreender as limitações do corpo, que são diferentes de indivíduo para indivíduo. Ana Paula frisou durante nossa conversa a importância de realizar check-ups médicos e manter o acompanhamento com profissionais.


“A maior dica é fazer manutenção de suas articulações, com mobilidade exercícios de força, uma bela nutrição, passar sempre com um profissional para ajudar a orientar e começar a fazer sempre de forma progressiva e gradual, escutando seu corpo, se sentir dor, se sentir alguma dificuldade, diminui um pouquinho o pace, a quilometragem, a ideia é que seja uma coisa divertida, uma coisa feliz, lenta e progressiva”, completou a presidente da SPAMDE.


Começar na corrida pode parecer um grande desafio, mas com a orientação certa o caminho se torna mais claro. Para ajudar a superar a barreira inicial batemos um papo com o treinador e comentarista oficial da São Silvestre, Wanderlei Oliveira que deu algumas dicas sobre como iniciar no esporte.


1. É necessário um check-up clínico, ortopédico, dentário e oftalmológico;

2. Avaliação física específica, com eletrocardiograma de esforço (acompanhado por médico especializado em medicina esportiva);

3. Teste de biomecânica dos movimentos, realizado em esteira (para determinar qual o tipo de tênis mais apropriado para a prática da corrida);

4. Teste de capacidade aeróbia (acompanhado por um técnico especializado e com experiência comprovada em corrida de longa distância).


Com todos os cuidados em dia, procurar um treinador que consiga realizar um acompanhamento específico e entenda seus pontos fortes e fracos é essencial. “O importante é respeitar seu atual nível técnico e seguir as orientações de um profissional qualificado com experiência em corrida. Estar com os exames médicos em dia, além das vacinas, principalmente para os que estão acima dos 60 anos”, disse Wanderlei.


Entender que, apesar das limitações naturais que a idade impõe ao corpo, ela não é um fator impeditivo para a prática de atividades físicas. Em nossa conversa, o treinador citou seu trabalho com corredores que foram sedentários até os 50 e a melhora que tiveram com pouco tempo de treino.


“Ao longo de mais de 30 anos acompanhando ex-sedentários, homens e mulheres, na grande maioria acima dos 60 anos, tenho observado as seguintes reações dessas pessoas que adquiriram uma excelente condição física com a corrida: Autoconfiança, melhorando a imagem de si mesmas, Dormem melhor e têm um sono mais tranquilo, têm maior disposição para o trabalho, alimentam-se melhor, têm melhor digestão e menos problemas de gases estomacais”, afirmou o especialista.


Ainda respondendo sobre os benefícios de se manter uma rotina de treinos e um estilo de vida saudável, Wanderlei citou um estudo realizado pelo Colégio Americano de Medicina Esportiva (ACSM). A pesquisa apontou que a produtividade de homens e mulheres acima de 60 anos que seguem um programa de corrida orientados individualmente de acordo com as suas características e necessidades, são superiores aos mesmos indivíduos da faixa etária inativos (sedentários).


Um exemplo de que idade nem sempre é um fator limitante e que pessoas 50+ podem desempenhar tão bem quanto jovens é Ana Luiza dos Anjos Garcez. A corredora é campeã mundial dos 5.000 metros e recordista dos 21K de Miami, nos Estados Unidos, com 1h26 na categoria.


Ana cresceu nas ruas de São Paulo e encontrou no esporte um caminho para sair do mundo das drogas e da violência. Hoje, treinada por Wanderlei Oliveira, conta como a corrida foi decisiva para uma grande virada em sua vida.


“O atletismo para mim significa tudo, perseverança, garra e também respeito”


Mesmo com a idade e o passado conturbado, Ana Luiza é considerada um dos grandes nomes do atletismo brasileiro. Em muitas provas, Garcez consegue desempenhar tão bem, e até melhor do que atletas de 20 a 30 anos em provas no Brasil e ao redor do mundo.


Em nossa conversa, a recordista internacional falou sobre a importância de treinar regularmente para manter o corpo ativo. Ana contou que, após iniciar os treinamentos com Wanderlei, conseguiu uma grande melhora em seu desempenho e qualidade de vida. Apesar dos antigos problemas com drogas e falta de uma nutrição correta durante grande parte de sua vida, o acompanhamento profissional a auxiliou a ter mais disposição se sentir bem consigo mesma.

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