A São Silvestre é mais que uma corrida; é um ritual de passagem, uma celebração coletiva. A atmosfera vibrante e o percurso icônico pelas ruas de São Paulo tem potencial de criar memórias inesquecíveis, mas também traz desafios. Além de reclamações sobre horário da largada, superlotação das vias e dispersão confusa, esse ano um novo esquema de venda de ingressos por lotes adicionou um perrengue até então inédito à lista. A plataforma online não suportou a demanda inicial, gerando muitas críticas. O problema foi amenizado no terceiro lote com a introdução de uma fila virtual, que trouxe mais transparência e organização ao processo.
Mas se é assim, o que explica as inscrições dos dois primeiros lotes se esgotarem em tão pouco tempo? Por que continuamos desejando participar de eventos como a São Silvestre? A resposta não é simples, mas é polêmica. Eu acredito que continuamos frequentando a SS justamente porque queremos essa fricção, uma dose de perrengue que pode valorizar um evento ou experiência. Mas antes de você torcer o nariz, é importante esclarecer que não estou glorificando perrengues.
Estou falando sobre os tipos de fricção que existem quando convivemos em grupo. Há até um termo técnico para isso: viés de esforço (ou effort justification, em inglês), que pode fazer com que as pessoas admirem mais o que demandou mais empenho. E corredores são mestres nisso! É o clássico “no pain, no gain”, que ganha vida nas redes sociais, transformando cada perrengue em conteúdo digital. As tretas, dificuldades, atritos e tensão são o tempero que, na dose certa, podem transformar qualquer coisa medíocre em uma experiência inesquecível, dentro e fora da corrida. Se a 99ª edição da São Silvestre vai acertar na medida ou exagerar no sal, só o tempo dirá. Quem (sobre)viver, verá! #saosilvestre2024 #jornalcorrida #corridaderua